Notas – Cap. 16 - 21

Capítulo 16

1

"Vacileis na fé", "vos escandalizeis". O termo grego skandalon designava uma cilada e, mais amplamente, tudo o que faz alguém cair ou vacilar em suas convicções. Na linguagem bíblica, tem a ver com colocar a fé em risco. O verbo grego skandalizõ foi usado em 6.61 em relação à atitude de revolta dos habitantes de Cafarnaum com o discurso de Jesus.

2
O Espírito Santo vem como Advogado (em grego clássico e, depois, neotestamentário parakletos) para orientar e defender os crentes; mas age como promotor, condenando os ímpios. O verbo grego elencho significa, no contexto, convencer de culpa, expor, refutar ou condenar.

3
A ressurreição de Jesus é a evidência da sua retidão e vitória, da justiça de Deus (17.25) e da justificação dos crentes (Rm 4.25). A presença física de Jesus é substituída por sua presença através do Espírito Santo, nosso Advogado.

4
Manipulando os acusadores de Jesus, estava o príncipe deste mundo. A vinda do Espírito é o sinal de que, na Suprema Corte de Justiça de Deus, todo o processo e julgamento resultaram favoráveis a Jesus Cristo, contra o mundo e o espírito que governa a humanidade, cuja sentença é condenatória (12.31; 14.30).

5
Jesus é a personificação da verdade (14.6). O Espírito orienta os crentes a entenderem e obedecerem à Verdade (Jesus). O Advogado revelará (em grego anangelei – anunciar tudo), aos povos de todas as culturas e gerações, os aspectos mais profundos da mensagem do Messias.

6
Embora o verbo grego erotao signifique "fazer uma pergunta", no NT ele é usado diversas vezes, como aqui, no sentido de "pedir algo a alguém". É o início de uma nova ordem, em que o crente ora diretamente a Deus, em Nome de Jesus, sob a orientação do Espírito Santo (Mt 6.9; 7.7-11;Lc 11.2-13).

7
O Pai ama (em grego, philei – ter afeição, ser amigo) a todos que amam o Filho, assim como o Filho ama àqueles que amam a seus discípulos (Mt 25.31ss).

8
"Cada um para sua casa" (em grego, eis ta idia), ou "para seu lado". É o cumprimento da profecia registrada em Zc 13.7.

9
"Tribulação" (em grego, thlipsis – aflição, opressão, adversidades). O cristão fiel está em Cristo e, portanto, desfruta da mesma paz que há em Jesus. É capaz de se alegrar em meio às provações (Rm 8.17; Fp 1.28) e de ter bom ânimo para vencer o mundo, como Jesus venceu.


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Capítulo 17

1

A temática dos discursos do cenáculo é concluída nesta "oração sacerdotal", pois é neste momento que Jesus se consagra para o sacrifício em que Ele é, simultaneamente, sacerdote e vítima. Jesus sabe que só o Pai pode glorificá-lo e a cruz será o instrumento dessa glorificação.

2
Jesus é o revelador do Pai aos discípulos, um grupo escolhido de pessoas (em grego anthrôpo) que comprovaram serem de Jesus, crendo e obedecendo à Palavra de Deus em Cristo.

3
No AT, o nome de Deus denota o seu caráter, poder e majestade (Sl 20.1; Sl 54.1; Pv 18.10). Deus guarda os seus, aqueles nos quais o Pai colocou seu selo (Cristo, nosso Salvador e Advogado).

4
Sl 41.9-12; 109.4-13. "O filho da perdição ou destruição" era Judas Iscariotes; esse mesmo título será dado ao anticristo (2Ts 2.3).

5
Todo o poder do mal, que ameaça a humanidade, é personalizado no "príncipe deste mundo" ou "maligno" (12.31; 14.30; 16.11; Mt 6.13; 13.19,38; 2Ts 3.3; Ef 6.16; 1Jo 2.13,14; 3.12; 5.18,19).

6
Jesus fala do futuro próximo (20.21). A graça eletiva de Deus não é dada de modo a fazer perder os "não eleitos", mas com o propósito de que, através dos eleitos, aqueles recebam a bênção salvadora de Deus em Cristo, assim como Abraão foi escolhido para abençoar o mundo (Gn 12.2,3; Gl 3.6-9,14; Is 42.1; 53.11,12).

7
Para que os discípulos pudessem ser devidamente separados para o ministério, Jesus, o Justo, precisava sacrificar-se voluntariamente (Hb 10.1-14). Jesus é a perfeita revelação da verdade.

8
O amor e a unidade entre os discípulos por causa de Cristo, em torno da verdade, confirmariam publicamente o relacionamento deles com Jesus e deste com o Pai, evangelizando o mundo (13.35; 1Jo 4.14).

9 Esta é uma das obras do Espírito Santo no crente (1Jo 4.13).

10
Os discípulos e a Igreja glorificada, unidos completamente a Cristo no futuro, contemplarão a glória do Senhor (At 7.55,66; 2Co 4.18; 1Co 13.12).

11
Tem a ver com proclamação e ensino da verdade (Sl 22.22; Hb 2.12).


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Capítulo 18

1

"Quidrom" (Cedrom, em outras versões), é a exata expressão hebraica, cuja raiz significa "escuro", da qual vem o nome de uma comunidade árabe, chamada "Quedar", por suas tendas negras (Ct 1.5).

2
Marcos (14.32) e Mateus (26.36) chamam este lugar de Getsêmani, "o lugar da prensa de azeite", onde, durante a Semana Santa (Páscoa), Jesus se encontrou com seus discípulos (Lc 21.37).

3
Um destacamento ou pelotão era composto, em geral, por 760 homens da infantaria e 260 da cavalaria para justificar a presença de um oficial comandante (18.12; At 21.31). Os judeus esperavam resistência armada, por isso pediram ajuda aos romanos.

4
Jesus apresenta-se com seu nome divino egô eimi, o nome do Pai (Êx 3.13,14).

5
Embora a profecia sobre a dispersão dos discípulos (16.32) também estivesse sendo cumprida, João destaca a profecia sobre a proteção espiritual que acompanhará seus discípulos para sempre (17.12).

6
Lucas informa-nos que Jesus ainda curou Malco (Lc 22.49,50) e evitou que os demais discípulos puxassem suas espadas.

7
João tinha grande familiaridade com o sumo sacerdote e sua criadagem (18.16), por isso conhecia Malco.

8
Jesus estava convicto quanto a fazer a vontade do Pai e cumprir sua missão até às últimas conseqüências (Mt 26.37-39).

9
Anás tinha sido sumo sacerdote de 6 a 15 a.C, porém mesmo como ex-sumo sacerdote ostentava grande poder, além dos seus cinco filhos também terem sido sacerdotes.

10
O sumo sacerdote aqui é o próprio Anás, que tinha esse título no sentido emérito (Lc 3.2). Quanto ao "outro", parece ser um discípulo de Jerusalém com algum parentesco com o sumo sacerdote; devido ao uso da palavra grega gnôstos (conhecido íntimo, parente).

11
O Pretório era o quartel-general (quando em acampamento) do governador militar romano, ou, como neste caso, uma de suas residências (18.33).

12
Os cordeiros pascais tinham de ser sacrificados no templo, à tarde do mesmo dia em que haviam nascido. Seriam comidos pelas pessoas que se mantivessem cerimonialmente puras, logo após o pôr-do-sol. O contato com a presença de fermento na casa de um gentio poderia excluir um judeu da Páscoa (Êx 12.19; 13.7). João contrasta esse zelo dos judeus com o que estão fazendo ao Filho de Deus.

13
Com a morte de Herodes em 4 a.C., a Judéia viveu um clima político de anarquia, em que qualquer rebelde podia se autoproclamar rei. Se Jesus fosse um rei desse tipo, teria havido uma batalha sangrenta, quando os soldados vieram prendê-lo no olival.

14
Uma passagem na Mishna (lei escrita dos judeus) indica que o cordeiro pascal podia ser sacrificado em favor de pessoas que não teriam condições de comê-lo. A lista incluía um prisioneiro gentio.

15
"Bandido" ou "salteador" (em grego lestes, assaltante de estrada). O termo significa "um rebelde zelote". O mesmo termo é usado em Mc 15.27 e Mt 27.38 para identificar os dois homens crucificados com Jesus. Barrabás era líder de bandidos (em grego archilestes) Mc 15.7; e muito conhecido (em grego episêmos) Mt 27.16.


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Capítulo 19

1

Para ridicularizar a Jesus, os soldados o vestiram com uma capa do exército, à guisa de manto real. Teceram uma coroa de ramos de tamareira, cujos espinhos causavam dores terríveis.

2
Os soldados se perfilavam e cada um, zombando, o agredia com um violento tapa no rosto (em grego rhapisma).

3 Pilatos percebe em Jesus o que os romanos chamavam de theios anêr (homem com qualidades divinas) e tenta camuflar sua insegurança com autoritarismo. Todo poder tem procedência divina (em grego anothen – de cima) Pv 8.15. O verbo "entregar" (em grego paradidomi) foi usado para descrever o ato traidor de Judas, e agora, de Caifás, que recebera de Deus, privilégios e responsabilidades de um sumo sacerdócio.

4
O tribunal era uma plataforma mais alta (em grego bêma) com uma cadeira vistosa em que o magistrado romano se sentava quando exercia suas funções judiciais. Pilatos teria presidido todo o julgamento desse local, não fosse a insistência dos religiosos judeus para não entrarem no Pretório a fim de evitarem a contaminação.

5
Próximo ao meio-dia. Na época, romanos, gregos e judeus, calculavam as horas a partir do nascer do sol. Parasceve (em grego judaico, paraskevê) recebeu o significado de "véspera do sábado"; sexta-feira.

6
Pilatos conseguiu fazer os judeus mais religiosos exclamarem que não tinham outro rei, senão o imperador romano César. Mas João enfatiza que coube ao próprio Pilatos proclamar para a História que Jesus é o Rei. Além disso, João vê um profundo significado nas muitas coincidências ocorridas; por exemplo, na época e hora do julgamento, condenação e execução de Jesus. Segundo a Mishna (lei codificada e escrita dos judeus), quando a Páscoa caía na véspera de um sábado, o holocausto da tarde era realizado às 12h30 e oferecido às 13h30 (duas horas antes do tradicional); depois disso, era sacrificado o cordeiro pascal.

7
"Calvário" vem do latim calvaria e significa caveira, o uso desse termo procede da Vulgata. No original, a expressão é aramaica gulgotta, mas em hebraico é gulgoleth. Os "pais da Igreja" viram, no ato de Isaque carregando a lenha para o holocausto (Gn 22.6), o antítipo (tipo ou figura) de Jesus carregando sua cruz. Ao afirmar que o próprio Jesus carregou sua cruz, João não contradiz os demais Evangelhos (Sinóticos), ao contrário, ele enfatiza que Jesus foi senhor da situação, o tempo todo. Embora conduzido para o local da execução, Ele caminha com seus carrascos como quem está cumprindo uma missão e não como vítima relutante.

8
Era costume escrever numa placa o crime do qual o condenado fora culpado e afixá-la sobre a cabeça ou prendê-la ao redor do pescoço. "Placa" em latim é titulus. Pilatos pensou em uma frase que irritasse os sacerdotes judeus, e ordenou a confecção da placa de Jesus nas principais línguas do mundo na época: o hebraico (ou aramaico), língua comum dos judeus da Palestina; o latim, língua do poder militar romano; e o grego, língua de comunicação cultural entre as províncias orientais do Império Romano e o restante do mundo.

9
João ressalta o caráter simbólico da inscrição na placa: é pela cruz que Jesus se torna o Rei Messiânico, e esse fato deve ser anunciado ao mundo. Os sumo sacerdotes judeus não conseguiram compreender o que estava ocorrendo, e Pilatos transformou-se em "profeta inconsciente" ao reafirmar majestosamente: "O que escrevi, escrevi" (o que disse, está dito para sempre).

10
(Sl 22.18). A túnica sem costura (em grego chitôn) tem sido interpretada de maneira alegórica, desde Josefo e Fílon, como uma referência à unidade dos homens em Cristo. João admira-se da riqueza de acontecimentos relacionados ao que Jesus havia predito e às profecias registradas nas Escrituras.

11
O vocativo grego gynai usado por Jesus ao dirigir-se à sua mãe é de difícil tradução. Entretanto, como em 2.4, é claro o amor e respeito de Jesus por sua mãe.

12
A tradição da Igreja indica que o "discípulo amado" foi João, o autor deste Evangelho; e que José, marido de Maria, já havia morrido.

13
Jesus tinha consciência de que estava cumprindo mais uma profecia (Sl 69.21; Sl 22.15).

14
"Vara de hissopo": planta de folhas aveludadas, que crescem em varas com cerca de um metro, identificada com a manjedoura e usada nas aspersões rituais (Lv 14.4; Sl 51.7). É mais um simbolismo litúrgico-pascal, que João faz questão de destacar (Êx 12.22).

15
Jesus "entregou" seu espírito, morrendo voluntariamente (10.18). Não como apenas mais um mártir da História, mas como sacrifício aceitável a Deus (Is 53.10).

16
Era a coincidência do sábado da semana com o dia da Páscoa, que ainda ocorre no calendário judaico, de tempos em tempos. Segundo a Lei dos judeus, um corpo não poderia ficar exposto em um poste depois do pôr-do-sol (Dt 21.22ss).

17
Essa é uma das evidências da completa humanidade de Jesus e que, simbolicamente, aponta para a água batismal e o vinho-sangue da Ceia (1Jo 1.7; 5.6-8).

18
Conforme a tradição judaica, João poderia ter considerado o aval de uma segunda testemunha, para reconhecer a total veracidade dos fatos narrados. É possível que Tiago, irmão de João, martirizado por Herodes Agripa em 44 a.D. (At 12.2), tenha sido co-autor desse testemunho.

19
Êx 12.46; Nm 9.12; Sl 34.20.

20
Assim como percebe o cumprimento de uma profecia no fato de as pernas de Jesus não terem sido quebradas, João cita o texto profético de Zc 12.10, ao ver os soldados perfurarem o lado de Jesus. Leia Zc 9 a 14 e note a alternância dos pronomes "eu" e "ele".

21
Ou cerca de 34 quilos. A libra (em grego litra) equivale a pouco mais de 300 gramas. Tanto José de Arimatéia como Nicodemos eram ricos, fariseus e membros do supremo tribunal dos judeus.

22
Os romanos só entregavam o corpo de um executado aos parentes mais próximos, entretanto, jamais quando a condenação fosse por sedição, como no caso de Jesus. Por outro lado, mesmo que essas especiarias não fossem tão caras quanto o "nardo puro" usado por Maria de Betânia (12.3-5), uma quantidade tão grande só era vista em sepultamentos da realeza.

23
O tempo urgia, foi preciso fazer o sepultamento de Jesus muito rápido, pois o pôr-do-sol daria início ao sábado. Constantino descobriu esse túmulo em 325 a.D. e o chamou de "edícula", que significa "caverna".


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Capítulo 20

1

O domingo, "dia do Senhor" (Ap 1.10), pois Cristo ressuscitou nesse dia (At 20.7; 1Co 16.1,2). Maria Madalena ou Magdala, por ser dessa cidade, localizada no lado ocidental do lago da Galiléia; mulher de posses, tornou-se uma discípula líder desde que foi salva por Jesus (Lc 8.2; 23.49,55; 24.10).

2
A palavra grega traduzida por "lenço" (soudarion) é um estrangeirismo procedente do latim (sudarium) e identifica uma peça de pano usada para enxugar o suor (Lc 19.20; At 19.12) do rosto e envolver a cabeça dos mortos, como ocorreu com Lázaro (11.44).

3
A Escritura (em grego, graphê).

4
"Para casa" (em grego, pros autous – "para eles"), praticamente sinônimo de eis ta idia (19.27).

5
"Mulher" (em grego gynai, vocativo de gynê) era uma forma gentil e respeitosa de se dirigir a uma jovem senhora; algo como "cara senhora" ou "madame".

6
Maria (em aramaico Mariâm). Ela o saúda em aramaico (Rabôni – Mestre), uma forma mais enfática e honrosa do que o tradicional "rabino". O mesmo título dado por Bartimeu a Jesus em Mc 10.51. A atitude de Maria em cuidar, logo ao alvorecer, para que o corpo de Jesus recebesse um lugar digno de descanso, mostra que ela era uma mulher de iniciativa e posses (como sugere Lc 8.2s); ela estava disposta a pagar pelo trabalho e outras despesas necessárias.

7
"A paz seja convosco" (em hebraico, Shâlôm âleikhem; e em árabe, Salaam 'alaikum). Uma saudação comum entre amigos, mas que agora fazia todo o sentido, e fez que os discípulos recordassem as promessas de Jesus (14.27; 16.22; Lc 24.36ss). O novo corpo de Jesus lhe permitia atravessar a matéria sem ser um fantasma. Jesus preocupou-se em demonstrar aos discípulos que eles não estavam sofrendo uma alucinação coletiva.

8 João usa o verbo grego apostellõ, indicando que os discípulos, agora, são efetivamente apóstolos, no sentido de "enviados" (17.18). A missão do Filho é confiada a eles, pois Jesus está retornando ao Pai. A plenitude do Espírito de Cristo para o desempenho da missão agora é entregue a eles através do "sopro" (em grego, emphysaô) de Jesus. É o mesmo verbo usado quando Deus soprou o fôlego da vida no homem (Gn 2.7) e também na ordem dada ao Espírito (em grego, pneuma) em Ez 37.9. Essa não foi uma antecipação do Pentecostes (At 2.1-21), mas uma dádiva real do Espírito Santo com o objetivo de capacitar os discípulos, para o ministério a seguir. Quanto aos pecados, estes serão mantidos (ou retidos), se as pessoas que ouvirem a proclamação do Evangelho não se arrependerem e não receberem o Espírito Santo.

9
Expressão de convicção absoluta. O Homem da Palavra era Deus! O mesmo clímax de Mc 15.39.

10
João foi testemunha ocular da vida e obra de Jesus de Nazaré, o Cristo (o Messias), Filho de Deus. A paixão e missão de João foi ver o mundo compreendendo essa verdade e vivendo, com fé em Jesus, pelo poder do Espírito Santo, nosso Advogado (3.36; 14.15-21).


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Capítulo 21

1

Somente neste Evangelho, o lago conhecido como mar da Galiléia é chamado de Tiberíades. João entregou este epílogo à Igreja como seu magnum opus.

2
"Moços" (em grego, paidia), uma expressão coloquial de companheirismo, assim como "filhos", "jovens" ou "rapazes".

3
Pedro havia tirado sua capa externa; uma espécie de casaco de linho, típico dos pescadores da região naquele tempo, usado por cima das vestes internas.

4
O côvado era uma medida linear equivalente a 45 cm. Portanto, o barco estava a menos de 100 metros da praia.

5 A palavra grega ariston (desjejum) indica que os discípulos ainda não haviam tomado uma refeição. Jesus alimenta seus discípulos da mesma maneira como alimentara a multidão à beira desse lago (6.8-10). Diz a tradição que as letras da palavra grega ICHTHYS (peixe) eram consideradas um acróstico para a expressão Iesous CHristos Theou HYos Sõter, "Jesus Cristo, de Deus o Filho, Salvador".

6
A pergunta de Jesus é reflexiva: "Tu me amas mais do que estes outros me amam?" A resposta lógica seria "não", pois como Pedro poderia saber o quanto os outros discípulos amavam a Jesus? Entretanto, Pedro havia pensado, no cenáculo, diante da perplexidade dos demais, que amava a Jesus mais do que todos, e havia assegurado que daria a própria vida por Jesus. Mas depois se acovardou; e ressentia-se profundamente disso. Jesus o perdoa, ensina-o a ser um "subpastor" por amor ao Supremo Pastor e ao rebanho (Igreja) de Cristo (1Pe 2.23; 5.2-4) e o reconduz ao ministério.

7
Pedro seguiria Jesus até na maneira como glorificaria o Pai (12.33). De fato, Clemente de Roma (96 d.C.) afirma que Pedro foi martirizado. Tertuliano (212 a.D.) acrescenta que, quando Pedro estava para ser amarrado na cruz, fora vestido por outra pessoa; e Eusébio escreve que Pedro insistira em que não era digno de ser crucificado do mesmo modo que Jesus e pedira que o fosse de cabeça para baixo. Enfim, Pedro conseguiu cumprir sua atestação em 13.37.

8
Agora, espiritualmente restaurado e com uma nova missão, Pedro olha para trás e preocupa-se com o futuro do seu amigo.

9
Jesus não prometeu que João permaneceria com vida até sua "volta" (em grego, parousia – a Segunda Vinda); mas sim, que se essa fosse a sua vontade, ou se Ele prolongasse os anos de vida de João na terra, isso não deveria ser do conhecimento de João, muito menos de Pedro. Por sua vez, Jesus ensinou os discípulos e a Igreja a se prepararem para a parousia, que pode ocorrer a qualquer momento (1Ts 4.13-18; 1Jo 3.3).

10
Por volta de 95 d.C., João foi exilado pelo imperador Domiciano na Ilha de Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse (Ap 1.9). Morreu em idade avançada e foi sepultado em Éfeso.

11
A comunidade que recebeu o escrito testemunha e afiança a vida e a obra do autor deste Evangelho: João, o discípulo a quem Jesus amava.

12
A intenção do evangelista é levar seus leitores para muito além das letras e dos registros históricos, a fim de que reconheçam em Jesus o Verbo (Palavra) de Deus, feito pessoa humana, para a salvação eterna de todo aquele que nele crer (1.14; 3.16; Ap 12.10).


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